sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A Morte da Rainha de Copas ou o Conto da Mega Sena



Todos os dias ao adentrar o escritório onde trabalhava, pisava com o pé direito, carregava flores, a turmalina negra e o quartzo rosa (uma pedra em cada bojo do sutiã) e ao passar pela porta principal, evocava mentalmente canticos budistas de proteção, assim como as conjurações das ritualisticas druidas, e convocava os seus mestres e guias espirituais a ingressarem para mais um dia de batalha psicológica. Já havia tentado de tudo, mas sentia-se como Alice no País das Maravilhas tentando se proteger. Batendo palmas para a louca da rainha de Copas dançar em seus desvarios diários.

Dorotéia tinha pavor de humilhações em público, mas alguns seres humanos são dotados daquele instinto animal que sente no ar o cheiro do medo. Sempre fora a sujeita sem cor do escritório, aquela que permanecia quieta, se pudesse esconderia sempre atrás dos muros das baias para nunca ser vista, pelo seu caráter introspectivo, os mais marketeiros do escritório, nunca se interessaram em fazer amizade. Mas, isso não a incomodava. Desde que aprendera amarrar seus sapatos, sabia-se só. Preferia mil vezes não ser vista e nem notada e efetuar seu trabalho em pleno silêncio, mas não é que o diabo da mulher sempre achava um jeito de vociferar com ela.
O "diabo da mulher" chama-se Cupertina Durão, mas acredito que o mais correto a dizer, era que ela tinha o capeta no corpo. Acredite-me nem um exorcista daria um jeito "naquilo". Ela de fato se parecia com a rainha de copas, mas com o corpo do personagem Bob Esponja Calça Quadrada. Ainda assim, dizia-se um mulherão. Seu marketing pessoal era imbátivel, era carismática e vendia até areia em um deserto. Vendia-se como um peixão, apesar da aparencia de bacalhau.
Rezava a lenda, que Cupertina Durão, importante publicitária, dona de um império de cadeias de fast food (cujo segredo culinário era reaproveitar sobras de resto de churrasco para a confecção de hamburgueres) havia conseguido a licença para a comercialização de seus produtos organizando um cocktail para atrair a atenção (e sabe-se lá o que mais) do diretor da Vigilância Sanitária - Acácio Coutinho que mais tarde, tornara-se seu sócio na Durão Produtos Alimentícios.
O "diabo da mulher com o capeta no corpo" era tão obstinada que conseguiu casar com o "parvo" Caio. Caio era daqueles homens que necessitavam de uma figura feminina que veste cuecas box. Elegante porém viril. Sua mãe havia morrido no parto, então vivia eternamente com aquela carinha de cocker spaniel que não havia ganho o seu Biscrok a cheirar o pé de mulheres que o colocariam no colo ou na coleira (nesse caso tanto faz) e proveriam sua carencia de leite materno.
Nenhuma mulher em sua independencia e exuberância consegueria apaixonar-se por ele, mas Cupertina Durão, em que tudo via uma boa oportunidade de unir o dever ao prazer, não perdeu tempo.
Então, após um ano se casaram. Após um ano ela abrira seu primeiro restaurante fastfood. Após 8 anos de casamento, tinham 2 filhos (Lucius Augustus e Otavianus Julius - ela queria que os filhos fossem dignos do império que haviam construído), 1 labrador disléxico, e 40 restaurantes em todo o Brasil e um em Miami (lugar para as férias de final de ano da família).
Ainda assim, com toda essa felicidade, Cupertina não conseguia passar nem um dia sem menosprezar, irritar, enervar, e quem sabe provocar até um infarto (nessa caso nunca era culpa dela, mas do marido que a tinha irritado até ela descontar em alguém) em um de seus funcionários, subalternos ou familiares.
E, é aí que voltamos para Dorotéia, que havia sido contratada após 18 assessoras pessoais terem ido embora ou sido internadas em clínicas psiquiátricas ou de reabilitação de drogas e afins. Segurando o coração na mão todos os dias, a fim de não ter a cabeça cortada, seu sustento dependia só dela, seus pais haviam morrido a muito tempo, e se criara com avó que havia falecido ano passado.
Concordava com as mais estapafúrdias atitudes, dizia amém a todas as sandícies e imundícies da senhora do castelo dos hamburgueres de picanha mal passada. Engolia as humilhações e os ressentimentos com goles generosos de água com florais de bach. Tinha medo que um dia tudo aquilo eclodisse. Afinal, quando alguém assim tem os seus "cinco minutos de insanidade" tende a perder totalmente a razão.

Certa feita, Dorotéia tinha feito as planilhas de custos assim como as de recebimento, entrou em contato com todos os clientes cobrando os inadimplentes, havia ligado para alguns forncedores de sobra de churrasco em Nova Iguaçu, Oswaldo Cruz, Duque de Caxias, Méier, Bonsucesso e Bangu (afinal tinha sido final de semana de Flamengo e Vasco), para que pudessem assinar o termo de confidencialidade do fornecimento de sobras prevendo consequências desastrosamente insalubres para a quebra do contrato, providenciara a entrega das sobras nas redes fast foods, acionou os seguranças da rede para fiscalizar a entrega, assim como os gerentes para o recebimento da carga preciosa, ligou para os fabricantes de carne de rã para requerer o carregamento novo a fim de fazer chegar até as redes os hambugueres de carne de râ prensados para o lançamento do pererecas light club lifestile - novo sanduiche da rede até quarta feira, e uma série de outros telefonemas, além das ordens do dia para a 22a babá do casal.
Era terça feira de manhã e estava já estava exausta! Olhou o relógio, 13:00, precisava sair para repor as energias. Ligou para Cupertina, e perguntou se podia sair para almoçar...
- Almoçar ???? Para que ??? Com as banhas que vc está dá para matar a fome do sudão! (seguida de uma risada maquiavélica.). Brincadeirinha querida, pode ir. Come em 15 minutos e esteja aqui. Quinze minutos é mais que suficiente!
Dorotéia precisou de uma intervenção divina para segurar a mão direita que já tinha pego o extrator de grampos prontos para adentrar a sala da possuída para dar umas estocadas na carótida daquela peste! Respirou, pegou a bolsa e saiu.
Comeu um sanduiche no concorrente só de sacanagem. Se era para engordar, que fosse no concorrente. Foda-se! Já estava cheia daquela merda. Comeu seu Big Mac com voluptousidade, tomou seu refrigerante. Após seu breve almoço, foi lotérica conferir se havia sido a mais nova milionária. Jogava toda a semana. Sua esperança em um pedacinho de papel.
Ela teve que se sentar em um banquinho na Rua Uruguaiana para tomar fôlego. Estava milionária desde segunda feira e não sabia. Quase morreu de susto! Mas, recobrou as forças e pensou que morrer em uma hora daquelas seria dar um grand finale imbecil a uma existência patética. Foi quando uma idéia lhe ocorreu....Era hora da vingança.
Quando retornou ao escritório de Durão Produtos Alimentícios, duas horas haviam se passado, tinham 48 mensagens vociferantes de Cupertina em seu celular e 15 dos colegas perguntando e temendo pela cabeça de Dorotéia. Mas, como se todos os seus amuletos, preces, evocações tivessem milagrosamente funcionado, hoje era uma nova mulher...Uma nova mulher com 32 milhões em sua conta corrente.
Assim, que Dorotéia pisou no escritório, Cupertina, saiu de sua sala com seus melhores impropérios. Dorotéia calmamente andou com a chefe em seu cangote a berrar :
- Vc está me ouvindo sua merda ? EStá ?
- Estou...Muito bem por sinal.
- Vc está maluca ? 2 horas de almoço ? Tá maluca ?
- Estou maluca sim...Vai me internar ? Eu tenho o nome das clinicas aqui se vc precisar ligar...
- Hã ? Como ousa me responder ? EU SOU CU-PER-TI-NA DU-RÃO E NIN-GUÉM...NIN-GUÉM FALA COMIGO DESSE JEITO, NEM VC, sua vagabunda! Eu quero meu relatório AGORA.
- Pois não.
Dorotéia pegou o monitor de sua mesa, desplugou calmamante, o carregou até a sala de
Cupertina, abriu a porta e arremessou nos cornos da chefe, como se ali ela estivesse liberando todos os anos de ofensa e humilhação :
- Tome seu relatório sua velhaca burra e gorda, enfia essa merda desse seu rabo do tamanho do Oceano Atlântico. Eu estou de saco cheio dos seus desvarios!!!
Mal amada e infeliz, ou vc pensa que todo mundo aqui na empresa não sabe que seu marido não te come a mais de três anos?
E sabe porque ?
Ele tem uma caso com a chefe do jurídico, sua imbecil...Melhor amiga dele, o caralho!!!!!
Sempre foi o grande amor do cara de bolacha água e sal. Mas , era "só amizade" até o babacão começar a ganhar dinheiro para burro junto com vc!!!!!
É desnecessário dizer que a esta altura, já tinha juntado gente na ala da diretoria, e Caio tinha saído porta afora juntamente com Fábia Monteiro (sua amante). Cupertina atônita, primeiro por ter recebido um monitor na cara, e depois ao ver sua cândida assistente a cuspir-lhe as verdades em cachoeiras.
- Além disso, trepava com ela aqui dentro do escritório, nas suas costas e vc achando que ele estava encoleirado !!!!! Ha ha ha!!!!!
O pessoal da segurança gravou TUDO!!!! E após uma bela propina paga pelo seu querido marido, entregaram a fita para ele, mas ele é de uma inteligência sem igual que misturou as fitas com as do marketing e eu fiz o favor de achar sem querer quando fui procurar a apresentação dessa porra dessa boate aqui !
Eu posso ser gorda, imbecil, incompetente, mas sempre fui leal à vc achando que em algum lugar dessa sua alma infeliz tinha um naco de bondade. Puta que paril, que ilusão!...
Mas, tenho a porra de um futuro pela frente, e vc tem uma vida patética escondida em uma mentira!!! Imitação de uma vida perfeita cheia de lacunas. Vai chupar um canavial de rolas sua mal amada!!!! Eu me demito...Não trabalho para vc nem fudendo!
Dorotéia pegou sua bolsa, e ao sair daquele recinto foi aplaudida com ardor pela massa na porta, nos elevadores do prédio, na portaria. Virara a heroina anônima da vida diária. A presença de Cupertina era tão insúportável que ao ve-la as pessoas só pensavam em humilhação e confusão. Dorotéia os vingara.
Foi para casa, tomou um longo demorado banho, abriu a geladeira retirou uma lasanha congelada e riu-se pensando que era a última vez que iria comer aquilo, esquentou-a no microndas, saboreou aquela refeição barata, e ligou a televisão para ver o noticiário das 19:00 :
- Se jogou do décimo nono andar, a empresária dona da rede de fast foods D. Fast Hamburgueres, Cupertina Durão morrendo instantâneamente. Interrogados, os funcionários do prédio não sabem o que aconteceu, tão pouco os da empresa, mas todos foram unânimes em dizer ela não possui seu juizo perfeito e vivia a esbravejar com todos. Seu marido não fora encontrado até o final dessa reportagem para esclarecimentos.
Dorotéia sentou-se no sofá acompanhada de sua gatinha preta Capitu, pegou o telefone e reservou uma passagem primeira classe para a Itália, iria engordar com estilo e requinte. Após ficaria em uma spa no Sul da França, faria uma plástica e trocaria de nome. A rainha de copas estava morta, restava Alice saborear a sua vingança, em um pais distânte, o que seria de fato uma das muitas maravilhas que estavam por vir.








quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Platônica




Sobrara o velho vício de sonhar...

Ela contunava a alimentar sonhos de romances impossíveis.
Uma mulher tão forte, mas enfraquecia sua virilidade rosa criando em sua imaginaçãozinha mais uma estória de filme romântico. Se recusava a ser cética, mas sabia que havia alguma verdade na realidade, mas só para contrariar se recusara a acreditar, vivenciando as ilusões como uma maneira de escapar do espelho que dizia todos os dias que o viço de antes já não estava mais lá.

Ainda assim, com toda a realidade a berrar-lhe nos ouvidos que ela não tinha a menor chance, enamorou-se dele. Amor de um lado só. Seu temperamento irritado e inconstante deu lugar a uma calorosidade (se é que essa palavra existe) que derreteria até as calotas polares e uma receptividade tão grande que nem o Grande Gatsby a barraria como anfitriã. E, era assim, abrindo os salões de baile de seu coração que ela aguardava os sinais da presença de seu menino.

Uma carta, um bilhete, um e-mail, um almoço, um happy hour, uma palavra...Ia alimentando-se de esperança...Ia fazendo fotossíntese com a luz do amor imaginário que ela inventara para fugir da realidade. Certa feita, em uma conversa informal que os dois divertidamente mantinham antes de adentrarem em um bar, ele disse que havia sonhado com ela, e que seus familiares ouviram chamar-lhe pelo seu nome. Neste dia, a razão fora passear enquanto o coração tentava arrumar a casa. Sentaram-se em um bar nas proximidades da loja de discos em que trabalhavam, e enquanto ele falava, ela o observava com uma vontade barbara de beija-lo...Seus cílios compridos, a risada fácil, a inteligencia previlegiada, a empatia compartihada em idéias e na presença reconfortante que sempre a enternecia.

Enquanto ele ia ao toalete, a razão retornara se seu passeio, e foi colocar o coração no seu devido lugar. Quando ele retornou, havia uma notinha escrita em um guardanapo dizendodizendo :

"Querido,

Me sinto ridícula em te dizer, mas adoro-te.

Penso em esses seus olhinhos quase o tempo inteiro e, quando não sei de ti, abre-se uma lacuna em minha vida. Mas, acredito que esta ficará sem o preenchimento da palavra necessária para dar sentido a frase, por muito tempo...

Pelos gostos que tens e as mulheres que possuistes, dentre todas seria a última opção. Primeiro, pela idade, segundo pela forma, e terceiro jamais burlaria as regras de tua vaidade.

Peço que em perdoe, mas sendo tu o que és, já me cativaste. E sendo assim, preciso te esquecer antes que isso vire uma norme balburdia em minha mente.

Pediu demissão da loja, pegou sua mochila e foi viajar.

Precisava completar a lacuna com uma palavra que o amor não lhe dava, aliás nunca lhe dera.

O amor a aprisionava, então estava disposta a substituir por uma palavra diferente : Liberdade. No momento, além do seu vício se sonhar seria a que faria mais sentido do que àquela que sempre a governara : platônica.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O conforto do recanto da imaginação de Poliana

O dia é frio então migrarei meus pensamentos para um dia fresco de outono;
Se a solidão me assola, vejo o amor chegar em um olhar cativante de um verdadeiro cavalheiro a mostrar sua cumplicidade em meu viver;
Se o silêncio se faz, em um salão majestoso em um segundo todos os meus amigos riem e brincam realizando e comemorando a grande cerimônia da vida;
Se meus sonhos demoram a se realizar, passo um filme em que cada etapa do processo se dê, até que de imaginação eles possam tornar-se força de vontade para que se concretizem.
Se meu rosto não possui o viço de antes, preço a ajuda a menina que vibra em mim e sei que sou muito jovem ainda.
Se um amor do passado vem trazer a saudade, imagino-me em outros braços e esse moço será aquele que me ofertará seu coração e uma vida de felicidade a ser partilhada.
Se meu ânimo não dá asas a meu coração para influenciar minha imaginação, a ajudo com um bom livro ou um bom filme que traga -me de volta a alegria de brincar de viver;
E, se finalmente tudo isso falhar...Resta-me olhar firmemente nos rostos daqueles me me amam verdadeiramente, e que confiam que eu possa realizar qualquer coisa, e penetrando nesse sonho dos meus amados de fé, reencontro a imginação perdida, para recomeçar o jogo doce de Poliana, e sempre com satisfação, a vida levar.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Amo-te, apesar de ...


O amor é uma força poderosa, ou será obsessão por essa sua alma boa que me fascina. Será que nossas almas algum dia definitivamente ocuparão o mesmo patamar ?
As pessoas me perguntam : "O amas ainda ? Porque ?" - Burrinhas, coitadas!
Não se ama alguém"porque" ...Ama-se "apesar de"... Por isso é verdadeiro o que sinto por ti. Entende ?
Apesar de ficares um chato de galocha quando és inflexível, de não observares a verdade do mundo a não ser pela ótica que te convém, de seres atolado e lento quanto a anotar endereços e pedires direções aos outros, de ser egocêntrico e achar que tenho que te seguir aonde quer que se coloque porque vc cismou que eu não posso ficar de fora de sua vida, ainda que eu tente remar contra a correnteza sendo arrastada pelo seu sorriso toda a vez que pedes algo.
Eu te amo apesar de esconderes que sentes algo por mim, além da amizade...
Apesar de vc me olhar quando eu estou distráida, para esconder a verdade até de vc mesmo.
Eu te amo apesar de com esses teus olhos pequeninos, e esse sua alma tão míope, nunca teres decodificado as cartas endereçadas a ti como desesperadas centelhas de um amor guardado, e colhido em nossa em tenra idade. Cada palavra com o coração na garganta pedindo que tivesses sensibilidade de ler na entrelinhas a verdade irrefutável : "Amo-te apesar de..."
Música para o texto : "Wake up call" - Maroon Five

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Miopia


Sentou -se em frente ao mar questionando qual seria o próximo passo em sua vida, após a sua inesperada demissão, que a deixara triste, e achando que não valia muita coisa assim como as moedinhas de um centavo.

Mergulhou de roupa no mar... Precisa limpar a sua alma de tantos mal tratos que se submetera ao longo de 10 anos.

Quando não tomamos decisões relevantes para a melhorada qualidade da nossa existência, a vida faz com que voltemos ao ponto primordial de nossas questões.

Havia empregado sua energia, alma e amor em um trabalho em que poucas pessoas a viam como realmente era, além de relacionamentos tortuosos e ilusórios em busca de um grande amor. A família sempre a viu como um ser frágil. 34 anos de foco errado. Míope, completamente míope. Miopia na alma e nos olhos. Nunca enxergara o brilho, o glamour, a força, garra, a força daquela mulher que a vista de todos os seus amigos era muito interessante. Só os amigos, os do peito, verdadeiros, sabiam quem ela era.

No dia 19 de setembro o primeiro ciclo de "maus tratos" havia sido rompido, data mística. Há anos atrás havia se convertido ao Budismo nesta mesma data. Sabia que não havia sido por acaso. Então, a próxima questão seria encontrar o seu eixo, a sua elipse onde a estrela pulsante de seu nobre caráter pudesse retornar a sua casa planetária.

"Brilhe a vossa luz" era a frase do seu momento, e assim, sentindo-se nua no calçadão da avenida principal de sua vida, pos-se a buscar.

Dia 19 de setembro, o mar, a vida nova invadindo a sua vida velha com reboliço. Um tsunami.

As pessoas a olhavam com estranheza, toda molhada de roupa na praia. "Foda-se" - pensou. "Isso era o que tinha que ter gritado para todos aqueles que tinham tratado seus melhores sentimentos com a irresponsabilidade, frieza e loucura de Nero, que se pos a colocar fogo em Roma, achando que estava fazendo um prato flambado."

Chegou em casa e contou a família o ocorrido, a mãe a apoiou temporariamente, pois visava a sua indenização lhe pediria emprestado uma boa quantia, o pai lhe questionou sobre sua competência e que "besteiras" havia feito para que fosse demitida, e a irmã, em um surto histérico, ficou de melindres porque uma filha desempregada, iria onerar o pai, que a sustentava apesar dos 29 anos e nenhum trabalho relevante, e tirar-lhe-ia a vida literalmente de filhinha de papai.

Deitou na cama, trancou a porta do seu quarto, arrumou as malas e dormiu um sono pesado profundo como se durante todo esse tempo de sua vida, não houvesse descansado verdadeiramente.

Foi uma balburdia, quando na manhã seguinte, encontraram um bilhete juntamente com os óculos que usara a vida inteira. No bilhete estava escrito :

"Nada do que tentei deu certo.
Amar de todo o coração
Trabalhar com a força de 10 elefantes
Doar-me com pureza
Viverei para mim mesma
Viverei para a minha cura
A visão do mundo perfeita
Sem embaços
Não sei por onde vou recomeçar
Vou mergulhar na vida
Não vou represar a água do conhecimento do mundo
Represei a liberdade de meu espírito, ouvindo a todos
Ouvindo sempre que eu não era boa o suficiente
Enchi meus ouvidos de merda
Só ouço a mim a partir de hoje...
Não me esperem, porque eu não vou esperar,
Vou conquistar algo que ainda não sei o que é,
Mas, tenho uma breve desconfiança do que seja ... e é extraordinário
Se esqueçam de mim, porque não me lembrarei de vcs"

Foi para o mundo e nunca mais necessitou de exames de vista.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A Dor Extinta






















Todo o ser humano experimenta a dor em algum momento da vida. Seja ela dor física ou espiritual, todos passamos por isso, algum dia. Não somos diferentes, mas tanto a dor quanto a felicidade tem hora e dia para acabar, só que o grande mistério, para o findar de ambas, é quando tempo elas irão durar.

Ela estava acostumada a sentir um peso no peito. É a lacuna da morte que o amor deixa quando se vai. O amor é sinônimo de vida. Nada consegue preencher esse vazio.

Sabemos, que tudo na vida tem seu tempo para findar. E, foi num dia comum como qualquer outro, que ela fora surpreendida...

Ela iria almoçar às 13:00, procurou seus óculos escuros na bolsa e preparava-se para sair do prédio, quando aquele que havia despertado tanto amor e paixão passou na sua frente.

Ela acalentava o pensamento que após um término de relação, e este tivesse caráter definitivo, o universo conspiraria para repelir o encontro de ex-amantes.

Sabia que o dia em que o visse, iria cair dura e tisga. Afinal, tanta intensidade não podia dar em nada. Pelo menos aquele frio na barriga e o tremor nas pernas teriam de se manifestar.

Do outro lado da rua passara alguém que lhe era familiar, apenas tentava lembrar de quem era aquele rosto. Foi quando, como um pop-up, em sua tela mental estampou a imagem do homem, que lhe tirara o sono durante várias noites, se revelou. Tomou um susto. Te-lo visto, foi o menor dos seus problemas, mas o que sentiu deixou a pasma. O frenesi de dor e mágoa acabara. Ficou estupefata repetindo..."Meu Deus, Meu Deus...passou". A dor se extinguira, o vazio desaparecera, a visão de que ele era um homem mais que perfeito e ela uma vilã de novela terminara....Nada...Apenas o som da Rua da Assembléia e seu burburinho na hora do almoço e um belo dia de inverno.

Acomodou seu óculos escuros, colocou o seu i pod - "Abra seus armários, que eu estou a te esperar" tocava, abriu um sorriso, olhou o céu azul com o sol de inverno e, sem demora mergulhou na vida.

Ela se bastou.

domingo, 17 de agosto de 2008

Fragmento de um momento






Margarida passeava pelos jardins, colhendo energia e deixando a raiva de uma vida mal vivida. Na bolsa um celular e espaço sobrando para a solidão de tantos anos, mais ainda assim, não podia ocupar este espaço com distrações mundanas. Sabia que havia chegado a um momento crucial, não podia a cultivar a infelicidade como o Pequeno Príncipe cultivara a sua rosa. Era necessário mudar. Varrer a "sujeira de baixo do tapete". Enquanto escrevia em seu diário, as mudanças que gostaria de implementar pousou por questões de segundos uma borboleta, vôou um palmo a sua frente e saiu voando liberta pelos espaços dos jardins. Fechou seu caderno, e pareceu mais divertido seguir essa borboletinha graciosa do que queimar os neurônios com algo que, no momento, não teria como resolver tudo de uma vez, como era normal de sua personalidade imediatista.

Cruzou aqueles jardins enormes e centenários, nesse jogo de esconde esconde, entre plantas, arvores, arbustos, flores...e, foi em uma Vitória Régia que ela pousou. Margarida, extasiada, olhava a vitória régia e a borboleta, quando avistou seu próprio reflexo naquele lago. Olhou ainda, mais uma vez para a borboleta, e quando olhou novamente para seu reflexo, notou quando a imagem de um homem fez companhia ao seu rosto estampado na superfície. Observaram mutuamente as suas imagens refletidas e sorriram... Cumplicidade instantânea.

"Bonita borboleta, não ?" - Ele pergunta


"Sim, eu a estava seguindo" - Margarida respondeu.


"Sim, eu sei...Eu sei..." - Respondeu, sorrindo para Margarida.


"É impressionante, quando o seu foco muda, boas surpresas sempre surgem" - pensou Margarida sorrindo para aquele estranho.


- Café ? Vc gosta ...? - Perguntou ele


- Adoro...- Respondeu.


E, esse fragmento de um momento, durou até o fim da tarde de sol, onde os dois foram expulsos dos café do jardins pelos mosquitos e pelos donos do café.






quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Outros Olhos


Pequenos gestos
Grande poesia
Suspiro
Cansaço
Detalhes entre nós
Palavras, sempre meias palavras
Nunca o conteúdo esperado
Diga-me o significado do por do sol
Se para ti ele não brilha
Do que vale acreditar ?
Porque nas noites em que durmo pouco
E por pouco, não me desespero
Aguardando alguém melhor
Algo melhor
Penso no alivio do porvir
Tal qual como sonho
que realiza-se após grande batalha
Vivo do futuro
E isso, me consome...
O que consome sua alma ?
Deixa-me entrar
No seu mundo
Encoberto pela descrença
E, quem sabe
Vendo o mundo com meu coração
Possas finalmente enxergar
Que todas as coisas são um milagre.

domingo, 3 de agosto de 2008

Verdadeira Identidade

Eu não sei se me entenderás. Entenderás a natureza que me guia?
Necessito acreditar em estórias de amor improváveis;
Onde ao final os meios justifiquem o fim.
Eu não sei se entenderás as imperfeições impressas em minhas ações,
Que se deixa levar pelo poder, pelo paixão, pelo desejo, pela raiva, pelo ódio
para que os meios justiquem o fim.
Eu não sei se entenderás que eu compreendo todas as teorias
mas, não possuo a força de vontade necessária para coloca-las em prática, mas se eu me apaixonar, condição necessária, enfrentarei os piores fatos, as piores verdades para seguir esse pulsante, brilhante, e incandescente este orgão que me guia...
E uma vez atingido, o cinza de meu temperamento ranzinza, meu coráter duvidoso, vai se cercar de "uma existencia superiormente interessante" para decompor me em maravilha, prisma de sete cores, trazer ao meu sorriso a verdadeira identidade que possui, e verás no centro do meu peito a luz da alma que habita em mim.
Identifica-me...
Guia-me...
Reconheça-me...