quarta-feira, 22 de abril de 2009

Morando entre as estrelas



Esta estória é dedicada a Clementina Marques de Jesus, minha avó, que faleceu em uma data boa para os cristãos, na Páscoa, data de renascimento.

Vovó foi quem me criou, e foi-se de repente. Ela costumava dizer uma frase, que nós ríamos muito, e que demonstrava a objetividade que sempre tivera : "Ja comi, já bebi e nada mais me prente aqui". E, ela se foi assim, pois nada mais a prendia aqui. Tinha cumprido o seu papel.

Vovó e eu sempre tivemos uma sensibilidade a mais para a eletricidade no ar ou as energias etéreas que permeiam a existencia dos seres humanos e que, por muitas vezes, não percebemos. Compartilhavámos laços mais fortes do que os laços de família, estaremos unidas sempre pelos laços do coração.



Tinham ido ao parque de diversões, a avó e a netinha. A fim de que pudessem ir em seu brinquedo favorito. Apesar da diferença da idade, não se sabia ao certo qual das duas era a mais velha. O fato era de que sempre haviam compartilhado as emoções e sensibilidades que muitas vezes passam alheias na vida da maioria dos seres humanos. Ambas tinham vontade de chorar ao verem um lindo por do sol, e quando olhavam as estrelas se sentiam parte da Criação. Nas rádionovelas sentiam medo, terror, amor, e a tristeza de todos os personagens, e por sentirem e vivenciarem as emoções dos outros como se fossem as suas próprias, é que entendiam tão bem de seres humanos.
Muitas vezes adivinhavam-lhes o pensamento antes mesmo de verbalizarem. Por isso, como nem sempre a verdade agrada, tinham poucas amizades, mas as que possuiam eram duradouras.
E, assim existiam juntas, passando por dificuldades, alegrias, perdas e resgates até o dia do carrousel.

O brinquedo estava esquecido em um cantinho do parque, o predileto delas, onde não havia muita gente, e podiam ficar a vontade a compartilhar gargalhadas sem se importarem com expectadores a julgar-lhes. As duas subiram e deram o sinal ao rapaz que manejava o brinquedo.
A netinha subiu no cavalo azul com fitas douradas, e avó no malhadinho com fitas amarelo-ouro. Giraram felizes por muitas horas, se imaginando em pradarias, campos, pampas, vinícolas, alpes, vales e montanhas.

- Neta, sabe um lugar que ainda não estivemos ?
- Qual, avó ?
- As estrelas, nunca sonhamos em cavalgar entre as estrelas.

Colocaram-se a caminho do Universo. Visitaram planetas, apostaram corrida com cometas, se pederam em nebulosas, assistiram emocionadas o nascer de uma estrela, brilharam ao lado do sol, tomaram banho de brilho prata na lua. Quando passaram por Marte, a caminho da Terra algo se modificou no semblante a avozinha, e então a neta entendeu o próposito daquela viagem.

- Avó, já entendi. Precisas ficar, não é mesmo ?
- É, minha neta...Preciso sim. Não te demores, o dia já amanhece. Arreia teu cavalo e parte. Serei parte das estrelas cadentes que passam apressadas, serei a primeira estrela que verás no céu, e cuidarei da tua existência que está impressa no véu azul profundo do universo desde o dia que nascestes, e cuidarei do teu regresso, no dia que subires em seu cavalo azul com fitinhas douradas cavalgando correndo e estarei a te esperar.

A neta deu-lhe um beijo na testa e um abraço apertado, e desceu a Terra.

O rapaz que estava adormecido, acordou e se deu conta que havia passado tempo demais cochilando, parou assustado o brinquedo, olhou-a a menina com espanto, e indagou-lhe onde estaria a sua avó, e a neta ainda um pouco triste respondeu-lhe:

- Não se preocupe! Ela apenas voltou para casa. - E apontou para a primeira estrela que surgiu ao cair da noite.

sábado, 4 de abril de 2009

Off Line

E, foi assim depois de um conversa franca de msn, que ela decidiu ir embora.
Protegia seu medo...Alimentava o desespero...Poupando-se de vivenciar certos fatos e lembranças de suas escolhas ruins.
Pela primeira vez, resolveu ser racional.
Virou as costas, desligou o computador, e pesarosa o excluiu.
Sabia da sinceridade do rapaz mas, não conseguiria dividi-lo.
Ainda que fosse mera ilusão, pois, não sabiam se de fato, os sentimentos incandescentes teriam vazão pelo toque da pele de ambos.
Da virtualidade restou o encanto, as conversas de madrugada, as experiências vivenciadas, a afinidade, a recém conquistada da intimidade e o poder que as palavras possuem formando um universo paralelamente diferente existindo apaixonadamente fora da realidade, e é claro, a saudade.
Ela se desligou da vida, e colocou-se off line do mundo real, acessando em algum lugar de sua alma os sonhos de menina.